terça-feira, 26 de janeiro de 2010

'02 - Publicidade da época


W123 - Publicidade da época


BMW '02

Os primórdios da BMW remontam a 1916, quando em 7 de Março é fundada a Bayerische Flugzeug-Werke (BFW – Fábrica Aeronáutica da Baviera), começando a sua actividade com a produção de motores para aviões.

Posteriormente, em 1922, a Bayerische Motoren Werke (BMW – Fábrica de Motores da Baviera) adquire a fábrica da BFW, passando também a produzir motociclos e automóveis.

O símbolo da BMW representa uma hélice de avião, nas cores azul e preta, alusivas ao céu e ao movimento, tendo sido criado depois dos irmãos Karl Rath e Gustav Otto terem conseguido permissão do governo alemão para produzir motores de avião, em 1917.

A promulgação do Tratado de Versalhes, após o final da I Guerra Mundial impôs à Alemanha um longo período de inibição na construção de aeronaves. Assim, nos anos seguintes a BMW passa a desenvolver novos projectos, apresentando a sua primeira motocicleta na Feira Automóvel de Berlim de 1923. Em 1928, a BMW compra a fábrica de automóveis de Eisenach, que produzia sob licença uma versão do Austin Seven. A BMW desenvolve este automóvel em diversas carroçarias, lançando-o em 1929 como BMW 3 / 15 PS DA 2, resultando num grande sucesso.

Após a II Guerra Mundial, a fábrica da BMW de Munique estava praticamente destruída, mantendo-se quase intacta a fábrica de Allach, onde a BMW é autorizada a reparar os veículos militares americanos, podendo fabricar peças para estes veículos, assim como alfaias agrícolas e bicicletas. Apesar de recuperar a licença para construir motocicletas, a BMW não tinha condições para reiniciar a sua produção nesta fase.

Em meados dos anos 50, em pleno desenvolvimento económico acelerado da então República Federal da Alemanha, a BMW começa a produzir veículos desportivos que são aclamados pela crítica. No entanto, é um pequeno veículo de 2,29 metros produzido sob licença da empresa italiana ISSO que se torna num caso de sucesso em termos de comerciais, atingindo as 160.000 unidades vendidas.

Após a célebre assembleia-geral de 1959, em que os accionistas da BMW recusaram que a empresa fosse adquirida pela concorrente Gottlieb Daimler, a empresa entra na década de 60 com a construção de uma nova era de automóveis, a Neue Klasse, onde mais tarde se viria a incluir a célebre Classe ’02.

A Neue Klasse



No Frankfurt Motor Show de Setembro de 1961 é apresentado o primeiro automóvel da Neue Klasse, o BMW 1500, um veículo de 4 portas com um motor M10 de 4 cilindros, cujo sucesso de vendas permitiu à BMW em 1963 distribuir dividendos aos seus accionistas pela primeira vez em 20 anos.

Em 1963 é introduzido o BMW 1800, uma versão mais potente do primogénito da Neue Klasse, mantendo as 4 portas, mas apresentando alterações na grelha frontal e um quadrante mais moderno.

Em 1964 surge o BMW 1600 que, passado algum tempo, assume o lugar do seu precursor na Neue Klasse, o BMW 1500.

O ‘02


Max Hoffman, um importador de automóveis para os Estados Unidos da América teve a iniciativa de contactar a BMW transmitindo-lhe a sua opinião em como os automóveis da Neue Klasse teriam ainda um sucesso comercial muito maior se fossem vendidos em formato de 2 portas.

A BMW aprovou esta ideia e contratou o designer italiano Giovanni Michelotti, famoso pelos seus sucessos com o Triumph Spitfire e TR4 para desenvolver a versão de 2 portas da Neue Klasse.

Em 1966, no Auto Show de Geneva é apresentado o 1600-02 (mais tarde conhecido como 1602), um veículo cuja designação significava em simultâneo a cilindrada e o número de portas.

Este veículo, lançado no mercado internacional por um preço bastante reduzido, foi um enorme sucesso de vendas graças à sua qualidade de construção, fiabilidade e maneabilidade, sendo caracterizado pela revista Road & Track como “a great automobile at the price”.

O ’02 em Portugal


Um total de 12.774 unidades de BMW ’02 foi montada na empresa Batista Russo, S.A.R.L., em Vendas Novas, no seguimento da Lei da Integração Nacional aprovada por Oliveira Salazar.

Estes veículos, montados em Portugal distinguiam-se dos restantes pelo facto de utilizarem componentes nacionais, nomeadamente os vidros, que eram produzidos pela Covina (Companhia Vidreira Nacional) e os estofos que eram fabricados pela Molaflex.

As versões seguintes


O enorme sucesso do BMW 1602 permitiu o desenvolvimento do BMW 2002, cujos ex-líbris foram o BMW 2002 tii e o BMW 2002 Turbo, um dos automóveis mais famosos da BMW, permitindo que esta marca alemã ficasse sempre associada à construção de viaturas com carácter desportivo aliadas a uma elevada performance.

O BMW 1602 também serviu de base à versão cabriolet, desenvolvida pelo fabricante de carroçarias Baur.

Em 1971 foi lançado o Touring, nas versões 1600, 1800, 2000 e 2002 tii, um hatchback de 3 portas, com as mesmas linhas frontais dos sedans.

O pós-‘02


O sucesso desta gama de veículos permitiu o surgimento da Classe 3 já nos seus sucessores em meados dos anos 70. A Série 3 da BMW tem-se pautado até aos dias de hoje como uma gama de veículo de grande qualidade e com uma quota de mercado relevante no seu segmento.

O Clássico


Após 48 anos do surgimento da Neue Klasse e 44 anos da fabricação do primeiro ’02, esta gama de veículos mantém-se como uma referência da BMW, assumindo a posição de um dos automóveis mais marcantes da sua história, quer pelo sucesso de vendas alcançado, quer pelo ponto de viragem que a sua comercialização representou para a empresa em termos financeiros.

Mercedes-Benz W123

Quando Karl Benz, por um lado, e Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, por outro, davam os primeiros passos na indústria automóvel (e também, porque não dizê-lo, da indústria automóvel), estariam certamente longe de imaginar que passado cerca de um século o seu espírito pioneiro estaria na génese do surgimento de um veículo verdadeiramente marcante, o Mercedes-Benz W123.

A marca da “estrela” cujas pontas identificam a ambição da então Daimler Motoren Gesellschaft (DMG) em pretender operar nos meios de transporte terrestres, marítimos e aéreos, sofre uma evolução significativa quando em 1901 Emil Jellinek lhe encomenda 36 veículos, impondo como condição que estes tivessem o nome da sua filha de 10 anos, Mercedes.

O W123


Passados 75 anos, e já com a denominação Mercedes-Benz, surge o W123 (assim conhecido por ser este o código da sua carroçaria), com uma produção em série de 2.696.915 unidades em toda a sua gama, sendo, desde então, o modelo desta marca alemã com maior número de veículos produzidos.

Nunca uma gama da Mercedes-Benz tinha tido tanto sucesso como a W123, cuja introdução no mercado em Janeiro de 1976 faz justiça ao pioneirismo dos empreendedores da marca graças às suas técnicas de segurança, ao seu conforto, à qualidade e fiabilidade dos seus motores e ao seu estilo que, verdadeiramente, nunca sai de moda.
O W123 enquadra-se no segmento hoje conhecido como “Classe E” da Mercedes-Benz, que incluiu na sua já longa história veículos marcantes como o W110 (“Rabo de peixe”) ou a geração W114/W115, que também ficaria conhecida por “/8” (barra-oito), numa referência ao último dígito do seu ano de lançamento (1968). Foi esta geração extremamente popular pela sua fiabilidade que o W123 teve a responsabilidade de substituir em 1976, sendo um digno sucessor, dado que herdou a sua qualidade de construção e, em grande parte, a imagem do já existente W116 (actual “Classe S”) e as inovações tecnológicas desta gama superior.

As motorizações



Ao nível dos motores, o W123 oferecia uma variada gama que permitia um amplo leque de escolhas conforme as necessidades do cliente e o uso pretendido para o veículo. Numa fase inicial, o W123 herdou, na sua maior parte, as motorizações do seu antecessor, cuja provada eficiência e fiabilidade, tanto em motores a gasolina como a gasóleo, eram uma garantia para os potenciais compradores.

Como motor inédito a gasolina é apresentado o 250 com um motor de 6 cilindros em linha, surgindo, posteriormente, os motores de injecção 230 E (E de “Einspritz”) de 136 Cv e 280 E de 185 Cv. Nos motores a gasóleo sobressaem o 240 D e o 300 D, este de 5 cilindros, que são autênticas referências mundiais ao nível da durabilidade e fiabilidade.

Nos Estados Unidos da América são comercializadas, preferencialmente, as versões 300 D e 300 TD (Turbo Diesel).

Do número total de W123 comercializados pela Mercedes-Benz, merecem realce as versões a gasóleo 200 D, 240 D e 300 D, com, respectivamente, 378.138, 454.780 e 331.999 unidades produzidas., representando 82% dos veículos a diesel produzidos. Estes motores ficaram sobejamente conhecidos pela sua fiabilidade, ultrapassando em muitos casos o milhão de quilómetros percorridos. Dentro destas motorizações, o 240 D assumiu um papel preponderante junto dos motoristas de táxi, atendendo ao seu reduzido consumo, enquanto que o 300 D, em virtude dos seus 5 cilindros, foi o mais apreciado pelas suas prestações.

Nas versões a gasolina, cujo número total de veículos ascendeu a 1.280.496, as versões mais vendidas foram a 200 e a 230, num total, respectivamente, de 376.087 e 442.067 unidades, englobando os motores de carburadores numa primeira fase e, posteriormente, os motores de injecção.

O variado leque de escolhas nas versões a gasóleo e a gasolina, conjugado com os diversos tipos de carroçarias propostas, permitiram que o W123 fosse um automóvel preferencialmente escolhido pelos motoristas de táxi (particularmente o 240 D), pelas famílias e pelas empresas, o que contribuiu para a sua excelente aceitação no mercado.

As carroçarias


Durante o seu período de comercialização (1976 – 1985) o W123 foi construído em 4 carroçarias distintas:

As berlinas, de 4 portas e 5 lugares;
Os familiares, de 5 ou 7 lugares, denominadas de “T” (de “Touring”);
Os coupés, denominados por “C”, apresentados em Março de 1977; e
As limousines, de 7 ou 8 lugares, com mais 62 centímetros que a berlina.

As carroçarias comercializadas nos Estados Unidos da América apresentavam algumas diferenças relativamente aos modelos Europeus, nomeadamente ao nível dos pára-choques.

Além destas 4 carroçarias que serviram de base à comercialização deste modelo, também é possível encontrar outras versões, tais como cabriolet, limousines de 6 portas, ambulâncias, carros funerários, etc…

Com duas, quatro ou cinco portas, nunca a Mercedes-Benz tinha oferecido tanta versatilidade num modelo.

O equipamento


O W123 destacou-se, fundamentalmente, ao nível da segurança, área em que a Mercedes-Benz consegue ser o primeiro fabricante que é capaz de combinar de forma recíproca a segurança tanto activa como passiva nas suas viaturas, aumentando de forma significativa a sua eficiência. Na gama W123 são incluídos de série os travões de disco nas 4 rodas, faróis dianteiros ajustáveis, luz de nevoeiro traseira, a coluna de direcção de segurança e a absorção de energia nas zonas de deformação controlada à frente e atrás, entre outros elementos de segurança, sendo que a partir de 1980 são oferecidos como opção o ABS e o Airbag para o condutor, sendo um dos primeiros veículos a nível mundial a oferecer este equipamento.

Ao nível do equipamento opcional, existia uma vastíssima gama de opções que permitiam ao cliente dar um toque pessoal à sua viatura. Para além dos já referidos ABS e Airbag, é possível encontrar durante o período de comercialização do W123, cintos com pré-sensores, conta-rotações, ar condicionado (manual ou automático), tecto de abrir (manual ou automático), jantes de alumínio, bancos aquecidos, vidros eléctricos, caixa automática, direcção assistida, tempomat (cruise control), entre outras…

O clássico


Após 34 anos da sua apresentação pública, o W123 superou todas as provas a que foi sujeito, nomeadamente a mais difícil, a da aceitação em massa por uma clientela exigente e habituada aos mais elevados padrões de qualidade a que a Mercedes-Benz os tinha habituado, mas simultaneamente disposta a pagar o elevado preço a que eram comercializadas estas viaturas.

Quer pelo número de viaturas vendidas (2.696.915), quer pelos elevados padrões de qualidade, conforto e segurança que o caracterizavam, tornando-o vanguardista na sua época, o W123 soube conquistar a imortalidade, tornando-se um dos ícones da Mercedes-Benz e funcionando como um dos maiores activos de marketing da marca ao nível da fiabilidade e durabilidade.

Este automóvel verdadeiramente marcante foi “adoptado” pelos motoristas de táxi pelo seu carácter fiável, encontrando-se ainda hoje diversos veículos a gasóleo (principalmente com motorização 240 D) a circular com quilometragens que há muito ultrapassaram o milhão de quilómetros.

Esta viatura, que marcou uma era pelo seu design elegante e sedutor (foi o último Mercedes com pára-choques cromados), soube conquistar o seu espaço no mundo da sétima arte, fazendo parte de diversos filmes das décadas de 80 e 90, e inclusivamente em filmes mais actuais.

É por ser simultaneamente um automóvel marcante pelos seus padrões de qualidade e pelo volume da sua produção (que são características difíceis de encontrar em simultâneo) que o W123 foi capaz de conquistar o seu espaço enquanto automóvel clássico, não se limitando a ser um veículo antigo.

O W123 representa fielmente a ideia de “clássico do dia-a-dia”, dado que a sua robustez e fácil manutenção permite perfeitamente a sua utilização diária, mesmo depois de passados mais de 30 anos e mais de 1 milhão de quilómetros percorridos…

W123 e '02 - O prazer de conduzir

Na data de abertura deste blogue possuo dois veículos que são considerados em terminologia comum do mundo automobilístico como “clássicos”, embora tecnicamente sejam considerados “históricos” pela FIVA, de acordo com o post anterior:

- Um Mercedes W123 230 CE, de Agosto 1984 (o “W123”); e

- Um BMW 1602, de Janeiro 1974 (o “’02”).

O W123 foi adquirido em 25 de Junho de 2009 e o ’02 em 21 de Janeiro de 2010.

Cada um no seu estilo, e tendo em consideração que decorreu mais de uma década entre a fabricação de ambos, representa o verdadeiro prazer de condução que se tem vindo a perder com a evolução da indústria automóvel.

Ambos pertencem a gerações de automóveis com um carácter perfeitamente individualizado e distintivo dos restantes, tendo sido veículos marcantes para a Mercedes-Benz e para a BMW porque, respectivamente, representam o modelo mais vendido da marca de Estugarda e o modelo que permitiu à BMW ultrapassar a profunda crise financeira em que se encontrava.

A evolução da indústria automóvel permitiu dar passos seguros em direcção a uma maior segurança dos ocupantes dos veículos e a uma política de construção de automóveis mais amigos do ambiente, devendo estes factores ser encarados como extremamente positivos.

No entanto, há algo que os automóveis actuais perderam… O carácter único de cada modelo perdeu-se com as joint ventures entre diversas marcas e com a massificação da produção em série… a relação homem/máquina já não é a mesma, desde a introdução do ESP nos automóveis… a busca das sintonias das estações de rádio deixou de ser a mesma desde que se introduziu o RDS… os mapas deixaram de ter utilidade desde a invenção do GPS… a velha calculadora Casio deixou de ter utilidade para calcular as médias dos consumos das viagens desde que os automóveis passaram a ter computador de bordo… a surpresa de alguém nos dizer “tens uma luz de trás fundida!” deixou de fazer parte do nosso quotidiano, desde que qualquer falha eléctrica ou electrónica é identificada pelo veículo e apresentada no computador de bordo…

O prazer de conduzir é algo que se foi perdendo com os anos, mas que ainda se consegue recuperar aos feriados e fins-de-semana quando o W123 ou o ’02 saem garagem!

Em suma, este blogue pretende funcionar como um complemento para aqueles dias em que o passado e o prazer de conduzir regressam à estrada.

Este blogue vai ser organizado da seguinte forma:

- Fazer a apresentação do W123 e do ’02, enquanto veículos marcantes da Mercedes-Benz e da BMW, respectivamente;

- Apresentar publicidade da época de ambas as viaturas;

- Registar os encontros de clássicos em que o W123 e o ’02 participarem; e

- Enquadrar o património automobilístico que o W123 e o ’02 representam no património histórico e paisagístico dos locais visitados por ambos.

Boas viagens…

Definição de veículo histórico

Vou iniciar os posts deste blogue com a classificação de veículo histórico pela FIVA (FIVA – Federation Internationale des Vehicules Anciens), fundada em França em 1966:

Veículo histórico é um veículo rodoviário de propulsão mecânica fabricado há pelo menos 30 anos, preservado e mantido em estado historicamente correcto, que não é utilizado como meio de transporte diário, e que faz parte do nosso património técnico e cultural.

Esta é a classificação vigente após 1 de Janeiro de 2010, dado que até 31 de Dezembro de 2009 vigorava o período de 25 anos, como espaço temporal relevante para um automóvel poder ser considerado veículo histórico.

O principal objectivo da FIVA é contribuir para a preservação e uso de veículos motorizados com mais de 30 anos, considerados como veículos históricos.

Em Portugal, a FIVA é representada pelo CPAA (Clube Português de Automóveis Antigos), única entidade habilitada a efectuar a homologação de veículos históricos em território nacional.