terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mercedes-Benz W123

Quando Karl Benz, por um lado, e Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, por outro, davam os primeiros passos na indústria automóvel (e também, porque não dizê-lo, da indústria automóvel), estariam certamente longe de imaginar que passado cerca de um século o seu espírito pioneiro estaria na génese do surgimento de um veículo verdadeiramente marcante, o Mercedes-Benz W123.

A marca da “estrela” cujas pontas identificam a ambição da então Daimler Motoren Gesellschaft (DMG) em pretender operar nos meios de transporte terrestres, marítimos e aéreos, sofre uma evolução significativa quando em 1901 Emil Jellinek lhe encomenda 36 veículos, impondo como condição que estes tivessem o nome da sua filha de 10 anos, Mercedes.

O W123


Passados 75 anos, e já com a denominação Mercedes-Benz, surge o W123 (assim conhecido por ser este o código da sua carroçaria), com uma produção em série de 2.696.915 unidades em toda a sua gama, sendo, desde então, o modelo desta marca alemã com maior número de veículos produzidos.

Nunca uma gama da Mercedes-Benz tinha tido tanto sucesso como a W123, cuja introdução no mercado em Janeiro de 1976 faz justiça ao pioneirismo dos empreendedores da marca graças às suas técnicas de segurança, ao seu conforto, à qualidade e fiabilidade dos seus motores e ao seu estilo que, verdadeiramente, nunca sai de moda.
O W123 enquadra-se no segmento hoje conhecido como “Classe E” da Mercedes-Benz, que incluiu na sua já longa história veículos marcantes como o W110 (“Rabo de peixe”) ou a geração W114/W115, que também ficaria conhecida por “/8” (barra-oito), numa referência ao último dígito do seu ano de lançamento (1968). Foi esta geração extremamente popular pela sua fiabilidade que o W123 teve a responsabilidade de substituir em 1976, sendo um digno sucessor, dado que herdou a sua qualidade de construção e, em grande parte, a imagem do já existente W116 (actual “Classe S”) e as inovações tecnológicas desta gama superior.

As motorizações



Ao nível dos motores, o W123 oferecia uma variada gama que permitia um amplo leque de escolhas conforme as necessidades do cliente e o uso pretendido para o veículo. Numa fase inicial, o W123 herdou, na sua maior parte, as motorizações do seu antecessor, cuja provada eficiência e fiabilidade, tanto em motores a gasolina como a gasóleo, eram uma garantia para os potenciais compradores.

Como motor inédito a gasolina é apresentado o 250 com um motor de 6 cilindros em linha, surgindo, posteriormente, os motores de injecção 230 E (E de “Einspritz”) de 136 Cv e 280 E de 185 Cv. Nos motores a gasóleo sobressaem o 240 D e o 300 D, este de 5 cilindros, que são autênticas referências mundiais ao nível da durabilidade e fiabilidade.

Nos Estados Unidos da América são comercializadas, preferencialmente, as versões 300 D e 300 TD (Turbo Diesel).

Do número total de W123 comercializados pela Mercedes-Benz, merecem realce as versões a gasóleo 200 D, 240 D e 300 D, com, respectivamente, 378.138, 454.780 e 331.999 unidades produzidas., representando 82% dos veículos a diesel produzidos. Estes motores ficaram sobejamente conhecidos pela sua fiabilidade, ultrapassando em muitos casos o milhão de quilómetros percorridos. Dentro destas motorizações, o 240 D assumiu um papel preponderante junto dos motoristas de táxi, atendendo ao seu reduzido consumo, enquanto que o 300 D, em virtude dos seus 5 cilindros, foi o mais apreciado pelas suas prestações.

Nas versões a gasolina, cujo número total de veículos ascendeu a 1.280.496, as versões mais vendidas foram a 200 e a 230, num total, respectivamente, de 376.087 e 442.067 unidades, englobando os motores de carburadores numa primeira fase e, posteriormente, os motores de injecção.

O variado leque de escolhas nas versões a gasóleo e a gasolina, conjugado com os diversos tipos de carroçarias propostas, permitiram que o W123 fosse um automóvel preferencialmente escolhido pelos motoristas de táxi (particularmente o 240 D), pelas famílias e pelas empresas, o que contribuiu para a sua excelente aceitação no mercado.

As carroçarias


Durante o seu período de comercialização (1976 – 1985) o W123 foi construído em 4 carroçarias distintas:

As berlinas, de 4 portas e 5 lugares;
Os familiares, de 5 ou 7 lugares, denominadas de “T” (de “Touring”);
Os coupés, denominados por “C”, apresentados em Março de 1977; e
As limousines, de 7 ou 8 lugares, com mais 62 centímetros que a berlina.

As carroçarias comercializadas nos Estados Unidos da América apresentavam algumas diferenças relativamente aos modelos Europeus, nomeadamente ao nível dos pára-choques.

Além destas 4 carroçarias que serviram de base à comercialização deste modelo, também é possível encontrar outras versões, tais como cabriolet, limousines de 6 portas, ambulâncias, carros funerários, etc…

Com duas, quatro ou cinco portas, nunca a Mercedes-Benz tinha oferecido tanta versatilidade num modelo.

O equipamento


O W123 destacou-se, fundamentalmente, ao nível da segurança, área em que a Mercedes-Benz consegue ser o primeiro fabricante que é capaz de combinar de forma recíproca a segurança tanto activa como passiva nas suas viaturas, aumentando de forma significativa a sua eficiência. Na gama W123 são incluídos de série os travões de disco nas 4 rodas, faróis dianteiros ajustáveis, luz de nevoeiro traseira, a coluna de direcção de segurança e a absorção de energia nas zonas de deformação controlada à frente e atrás, entre outros elementos de segurança, sendo que a partir de 1980 são oferecidos como opção o ABS e o Airbag para o condutor, sendo um dos primeiros veículos a nível mundial a oferecer este equipamento.

Ao nível do equipamento opcional, existia uma vastíssima gama de opções que permitiam ao cliente dar um toque pessoal à sua viatura. Para além dos já referidos ABS e Airbag, é possível encontrar durante o período de comercialização do W123, cintos com pré-sensores, conta-rotações, ar condicionado (manual ou automático), tecto de abrir (manual ou automático), jantes de alumínio, bancos aquecidos, vidros eléctricos, caixa automática, direcção assistida, tempomat (cruise control), entre outras…

O clássico


Após 34 anos da sua apresentação pública, o W123 superou todas as provas a que foi sujeito, nomeadamente a mais difícil, a da aceitação em massa por uma clientela exigente e habituada aos mais elevados padrões de qualidade a que a Mercedes-Benz os tinha habituado, mas simultaneamente disposta a pagar o elevado preço a que eram comercializadas estas viaturas.

Quer pelo número de viaturas vendidas (2.696.915), quer pelos elevados padrões de qualidade, conforto e segurança que o caracterizavam, tornando-o vanguardista na sua época, o W123 soube conquistar a imortalidade, tornando-se um dos ícones da Mercedes-Benz e funcionando como um dos maiores activos de marketing da marca ao nível da fiabilidade e durabilidade.

Este automóvel verdadeiramente marcante foi “adoptado” pelos motoristas de táxi pelo seu carácter fiável, encontrando-se ainda hoje diversos veículos a gasóleo (principalmente com motorização 240 D) a circular com quilometragens que há muito ultrapassaram o milhão de quilómetros.

Esta viatura, que marcou uma era pelo seu design elegante e sedutor (foi o último Mercedes com pára-choques cromados), soube conquistar o seu espaço no mundo da sétima arte, fazendo parte de diversos filmes das décadas de 80 e 90, e inclusivamente em filmes mais actuais.

É por ser simultaneamente um automóvel marcante pelos seus padrões de qualidade e pelo volume da sua produção (que são características difíceis de encontrar em simultâneo) que o W123 foi capaz de conquistar o seu espaço enquanto automóvel clássico, não se limitando a ser um veículo antigo.

O W123 representa fielmente a ideia de “clássico do dia-a-dia”, dado que a sua robustez e fácil manutenção permite perfeitamente a sua utilização diária, mesmo depois de passados mais de 30 anos e mais de 1 milhão de quilómetros percorridos…

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